sexta-feira, 15 de agosto de 2014

CONVITE

Hoje a fome tem a minha cara
Eu quero um desapego 
Que me atravesse
Luz dos postes em seta
Cápsulas
deflagradas do sutil

Afago que me falta.

Peito aberto coração exposto
Olhos escorrendo em lágrimas
Na imensidão do instante retido

Sou a paisagem que me desenha
Sem sorriso farto e sem alegria vã.

(Quase um objeto que adormece)

Sou apenas eu e o silêncio de tudo

Gritando nesse vazio tão cheio de mim.

quarta-feira, 19 de fevereiro de 2014

Sem ela


Ontem à noite, da minha cama
Inundada de silencio e escuro

Pensei ouvir você me chamar
Mas era o vento, era o vento.

Em meio a chuva que fustigava
As árvores, as flores e vidraças.

Pensei ter visto você surgir nua
Por entre distancias impossíveis

- Mas era a noite, era a noite -.
Que não me deixava ver  nada.



Fabiano Silmes

terça-feira, 11 de junho de 2013

O Fim do fim

Alguma coisa morta
Me deprime nessa manhã
(De ócio e vidas desencontradas).
Quero a solidão dos píncaros
Inaccessíveis até para os pássaros

O silêncio das línguas cortadas
E o grito contido nas lágrimas
Que escorrem lentas anunciando

Peremptoriamente o fim do fim.

F.Silmes

sábado, 28 de abril de 2012

O último gesto


Algum dia não a verá como antes
E seu sorriso será triste e distante

Lembrarás dos momentos passados
E será dor toda a alegria abrasada

Não contentará o teu choro íntimo
E derramará o teu pranto desatado

Porém, com dignidade de quem sofre
Dará o nó a corda com toda serenidade

Então, no gesto último de sua escolha
Olharás para vida e não verá mais nada.

F. Silmes

segunda-feira, 12 de março de 2012

Os últimos bocejos da esperança

Para Lucilene

Quando enterraram a minha esperança;
A tarde estava fria e o vento cortante.
As folhas mortas caiam das árvores altas
E as sombras cobriam as flores ressecadas.

Quando enterraram a minha esperança;
Tudo era desesperado como um grito
Subitamente apunhalado na garganta.

Quando enterraram a minha esperança;
Tudo em volta jazia triste e acinzentado...
Os Corvos voando, ao longe, grasnavam.

Mas, de repente, todo o silêncio se desfez
E um grito estridente rompeu a monotonia

Então, pude perceber, com clareza e horror,
Que quando enterraram a minha esperança
ela, tão linda e tão frágil, ainda estava viva.


F.Silmes

quinta-feira, 30 de setembro de 2010

Súplicas à memória e ao esquecimento

Eu não quero nem lembrar
Quero esquecer-me de tudo
Que apaga meu sorriso pela raiz
Quero esquecer o medo o tédio
A dor a angustia e a culpa
Quero esquecer-me do que não
Seja duradouro e eterno e infinito
Quero esquecer o mais depressa
Os últimos receios além do teto
Do céu do espaço e do universo
Quero esquecer tudo que sangra
Quero me lembrar com urgência
Que estou vivo nessa sexta-feira
Quero mais do que tudo me lembrar
Que a luz do sol existe sobre as coisas
E a beleza eterna e infinita das coisas
Não duram muito tempo.

Fabiano Silmes

quarta-feira, 9 de junho de 2010

A Concretude do Antes

ontem quando olhei destraído pela janela
julguei que havia visto sem mais nem menos
uma flor morrendo em meio aos escombros.

ah que visão triste vista por meus olhos embaçados
ela ali tão pura e perdida qual um objeto descartado
de repente senti a pena que consome os pecadores
que agonizam como se fossem santos martirizados.

ontem chorei tanto quando olhei pela janela
de onde julguei ter visto algo puro agonizando
qual uma flor despedaçada .

ontem se bem me lembro quando olhei da janela
pensei comigo e com mais nada:
a vida é uma doce ilusão que acaba.


Fabiano Silmes